O
caminho da renúncia (Igreja - Empresa)
(O
autor é consultor teológico do Instituto Cristão de Pesquisas e pastor auxiliar
da Igreja Evangélica Cristã Presbiteriana)
O apóstolo Paulo ganhou muitas almas, mas foi preso, espancado, perseguido e
precisava trabalhar para se manter. Seu ministério, hoje em dia, seria
considerado próspero?
De uns tempos para cá, a vocação pastoral tem se transformado em mais uma opção
profissional. Foi-se o tempo em que as escolas teológicas atraíam gente
disposta a abraçar um ministério que significava desprendimento, sacrifício e,
não raro, a renúncia a uma série de outras oportunidades.
Hoje, boa parte dos calouros dos seminários está mais interessada em tornar-se
uma espécie de empresário do sagrado. A cada dia, a visão
"marqueteira" e a busca do lucro já estão influenciando até mesmo no
chamado pastoral. A preocupação com a manutenção da "igreja-empresa"
tem sido levada em conta até na escolha dos novos candidatos ao ministério.
Qualidades como carisma pessoal, dinamismo, capacidade gerencial, eloqüência
verbal e iniciativa estão sendo mais valorizadas na escolha da mão-de-obra
pastoral do que humildade, espiritualidade e temor a Deus.
Tal motivação já atingiu até mesmo líderes e pastores que estão na caminhada do
Evangelho há muitos e muitos anos. O que deveria ser examinado é o exemplo de
vida, o testemunho e a unção, mas o que estamos presenciando é a elevação de
homens ao púlpito pelas suas habilidades que trarão lucro aos caixas sagrados.
A adesão missionária ao serviço do Senhor tem sido substituída por outro tipo
de acordo - um pacto de conveniências, uma espécie de contrato de trabalho que
pode durar a vida inteira ou alguns poucos meses. O sujeito permanece ali
enquanto conseguir manter sua cota de arrecadação. Se o planejamento econômico
não for cumprido, nada feito.
Dentro desta visão, o futuro pastor precisa se preocupar em render mais no
material do que no espiritual. O candidato ao cargo de ministro da Palavra é
privado de pensar, questionar ou dar opiniões, já que o líder supremo da
instituição é considerado perfeito, à semelhança do mito da infalibilidade
papal. Este modo de agir está sendo adotado em diversos círculos evangélicos e se
estende a todos que estiverem sob sua influência. Se o membro um dia quiser
chegar a pastor, bispo, apóstolo, arcanjo, serafim ou semideus, só tem um
caminho: obedecer sem questionar. O direito de opinar ou pensar está fora da
revelação divina recebida pelo dono da igreja. Ao membro, só resta a aceitação.
Nada de explicações sobre os métodos empregados ou sobre o que se fala do
púlpito. Muito menos transparência financeira e administrativa.
Já imaginou se o apóstolo Pedro, caso vivesse hoje, fosse candidato ao
ministério? Provavelmente, teria sido imediatamente excluído por ter traído o
seu pastor, sem direito a defesa ou a uma segunda chance. E jamais ouviria de
seu líder: "Tu me amas? Então, apascenta as minhas ovelhas". E Paulo?
Será que seu ministério, hoje, seria considerado próspero? Ele ganhou muitas
almas, mas não levou vida confortável. Foi preso, espancado, perseguido. E
ainda por cima tinha de trabalhar para se manter, pois não queria ser um peso
para os irmãos. Quantos evangelistas do nosso tempo têm tal desprendimento?
É claro que muitos e muitos ministérios contemporâneos têm como único objetivo
proclamar o Reino de Deus e fazer a vontade do Pai, anunciando o Evangelho com
honestidade e fazendo discípulos. Existem igrejas que investem nos seus futuros
obreiros pensando apenas nas almas que serão salvas e libertas do pecado, pois
o plano do Senhor sempre foi a salvação do homem.
Diz a Palavra: "Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o
alpendre e o altar, e digam: 'Poupa a teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua
herança ao opróbrio, para que os gentios o dominem; porque diriam entre os
povos: onde está o seu Deus?'"
Graças a Deus, ainda sobram os remanescentes, aqueles que buscam a verdade, o
perfeito e simples Evangelho de Cristo, sempre tendo a esperança maior no
Senhor e dizendo como o profeta Habacuque: "Porque ainda que a figueira
não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da
oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada
sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no
Senhor; exultarei no Deus da minha salvação".
Se no mundo existisse apenas um pecador, ainda assim Jesus teria deixado a sua
glória e morreria por apenas aquela alma. Mas nós, servos e ministros do
Senhor, estamos dispostos a deixar tudo para alcançar uma única vida?
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