Corações Expansíveis
O vinho novo do evangelho exige um coração
elástico, uma vontade permanente de ver as coisas de novo e uma prontidão para
fazer mudanças radicais no pensar e no fazer quando ouvimos Jesus em sua
palavra, chamando-nos para segui-lo em novos avanços espirituais. Por esta
razão a palavra de Cristo tem que ter novidade perene em si até para o cristão.
Ela será sempre ameaçadoramente nova para o mundo incrédulo que tem uma
orgulhosa tendência a endurecer suas categorias contra a vontade de Deus. Mas,
como os fariseus demonstraram amplamente, não é só o mundo sem religião que
resiste ao fermento atemorizador do evangelho, pois nenhuma mente temeu o
evangelho tão profundamente como o tradicionalismo religioso entrincheirado.
A fé no Filho
de Deus é dinâmica, não estática, e a companhia dele uma aventura sem fim; não
porque ele é mutável, mas porque nossa compreensão e aplicação de sua eterna
vontade precisam estar sempre crescendo e aumentando. Tudo o que Deus já
cumpriu em nossas vidas é somente preparação para o que ele está para fazer.
Estamos envolvidos numa transformação importante, cuja meta insuperável é a
imagem do próprio Cristo (Romanos 8:29; Efésios 4:13-15). Portanto, nossos
corações precisam ser sempre expansíveis, prontos a receber uma nova lição de
santidade e pureza. Apenas começamos a ser o que Deus quer que sejamos.
Às vezes,
somos tentados a pleitear com nosso Pai pelo fim das mudanças, dos desafios,
dos problemas. Queremos apenas sentar-nos e gozar o que já fizemos por algum
tempo, sem as dores do esforço das novas crises e dificuldades. O problema é
que esta ânsia por descanso pode levar a um endurecimento espiritual que fará
da nossa experiência com Deus apenas uma memória. Você pode vê-la em cristãos
que estão completamente descomprometidos com os desafios e oportunidades
presentes, seu único exercício espiritual sendo um contínuo rearranjo do
passado.
A imensidade
do que Deus tem em mente para nós é poderosamente afirmada na oração de Paulo
pelos efésios: "para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que
sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e,
assim habite Cristo no vosso coração, pela fé ... para que sejais tomados de
toda a plenitude de Deus" (Efésios 3:16-19). Não é de admirar que, depois
desta incrível petição o apóstolo entregue o assunto nas mãos daquele "que
é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou
pensamos" (3:20). Somente Deus poderia conseguir tal maravilha: que por
duas coisas, fé e amor, poderemos ser cheios até a plenitude das glórias e
poder do eterno Deus. Quanto nosso Pai nos amou!
Mas para
sermos cheios de tal plenitude precisamos oferecer a Deus algo mais do que
corações rígidos, inflexíveis. Os avanços de ontem em fé e amor são odres
velhos. Não serão suficientes para conter os novos entendimentos que estão por
vir. Cada novo dia de vida é dedicado a nos ensinar novas lições que nos fazem
sentir refrescados no amor de nosso Pai. Precisamos saudar cada uma delas com
um coração aberto e desejoso. A grandeza de Cristo não pode ser despejada em
odres velhos de personalidades sóbrias, pressuposições fixas, preconceitos
endurecidos, e idéias predeterminadas. Quando confrontadas por um profundo
entendimento da vontade de Cristo, rígidas e velhas categorias podem, ou
resistir e nos tornar em insensíveis ideólogos religiosos, ou romper
desastrosamente para a perda de toda a fé. É uma perspectiva amedrontadora.
Uma vez que o
Senhor toma residência em nós, um processo dinâmico começa pelo qual todas as
coisas são renovadas (2 Coríntios 5:17). Porque é um processo que precisa
continuar enquanto vivemos, precisa sempre haver uma borda verde para nós, uma
parte vivente e crescente. Não é uma questão de mudar com o tempo, mas de
mover-se para mais perto do intemporal. A meta da corrida está imóvel, mas o
corredor precisa sempre estar se esforçando para frente, pressionando, correndo
esforçadamente em direção a ela (1 Coríntios 9:24-27; Filipenses 3:12-14).
Precisamos por
todos os meios evitar de ver esta grande aventura com Cristo como correr em
posição, repetindo os mesmos velhos imaturos e inadequados esforços com
intensidade sempre crescente. Fazer assim é repetir a loucura de cabeça vazia
dos fariseus que, em vez de abrirem-se a um mais amplo entendimento de Deus, se
tornavam mais zelosos de suas concepções meio formadas (Mateus 23:23-24). Nunca
estamos mais em perigo desta paralisante imobilidade do que quando somos
convertidos à igreja, antes que a Cristo.
Quase sem sabê-lo, podemos tornar-nos
fiéis às concepções que nossos irmãos têm mantido sobre as coisas durante um
particular período da História, antes que unir-nos firmemente a Cristo e sua
palavra e o que quer que exija novo entendimento, que a vontade divina possa
colocar sobre nós. Quando cristãos querem defender coisas erradas porque já têm
praticado tais coisas no passado, acabam sendo fiéis ao sistema. Tal
mentalidade nos impede de fazer o que devemos no serviço a Cristo. Ser um
verdadeiro seguidor de Cristo exige um coração flexível, expansível. Cristo e
sua vontade não mudam; mas nós precisamos mudar, continuamente.
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