A IGREJA, O CRISTÃO E A
POLÍTICA
1. A IGREJA
A igreja de Cristo é a agência do Reino de Deus na terra. O apóstolo
Pedro em sua primeira epístola nos dá o perfil da igreja de Cristo em sua
essência quando se referindo a ela afirmou que a igreja é a “...geração eleita,
o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; Vós que
em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis
alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia” (I Pe. 2.9-10).
Deus elegeu Israel para ser o seu povo, mas Israel não correspondeu ao
amor de Deus. Deus elegeu então a igreja em Cristo Jesus para tornar-se
eternamente o seu povo. “Fui buscado dos que não perguntavam por mim; fui
achado daqueles que me não buscavam. A um povo que se não chamava do meu nome
eu disse. Eis-me aqui” (Isaias 65:1).
É glorioso sabermos que somos um povo do qual Deus inspirou
escatologicamente ao profeta para expressar que este povo estranho o buscaria
de tal modo, que Deus se faria presente.
Em Cristo se cumpriu a profecia de Isaias e Jesus orando por seus discípulos deixou
bastante claro quando se expressou dizendo: “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles
estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me hás
amado antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te
conheci; e estes conheceram que tu me
enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer
mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles e eu neles esteja”
(João 17: 24-26).
A igreja é a grande eleita na eleição de Deus. Voltando ao texto de
Pedro verificamos que o apóstolo deixou bem claro e definido critérios para
serem observados pela igreja de Cristo como geração eleita de Deus.
“Sujeitai-vos pois a toda a ordenação humana por amor do Senhor: quer ao rei,
como superior; quer a governadores, como por ele enviados para castigo dos
malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é a vontade de
Deus que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens loucos; como
livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de
Deus”. E Pedro conclui dizendo: “Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a
Deus. Honrai ao Rei. (I Pe 2:13-17).
A luz deste texto entendemos que é a vontade de Deus que Sua igreja,
respeite os poderes constituídos. O testemunho da igreja deve está de tal modo
evidenciado, que possamos tapar a boca dos homens ímpios. O sacerdócio real
está sobre a igreja e como sacerdotes e profetas de Deus que somos, devemos ser
instrumentos de transformação do mundo pelo amor.
Devemos colocar as autoridades diante de Deus, conforme o Apóstolo
Paulo chamou à atenção de Timóteo, dizendo: “Admoesto-te pois, antes de tudo,
que se façam deprecações, orações intercessões, e ações de graças por todos os
homens; Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos
uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade. Porque isto é bom
e agradável diante de Deus nosso Salvador.” (I Tim. 2:1-3).
Aí está o grande ensino do Novo Testamento para o comportamento da
igreja como povo de Deus. Escrevendo a Tito, o apóstolo Paulo reportou-se ao
mesmo assunto, dizendo: “Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e
potestades, que lhes obedeçam, e estejam preparados para toda a boa obra; que a
ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando toda a
mansidão para com todos os homens”. (Tito 3:1-2).
Diante destes textos concluímos que Deus abomina a desobediência às
autoridades que por Ele mesmo foram constituídas sobre as nações e Reinos.
“...afim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre os
reinos dos homens, e os dá a quem quer, e até ao mais baixo dos homens
constitue sobre eles” (Dan. 4:17).
2. O CRISTÃO
Não deve haver dicotomia entre o comportamento pessoal do cristão
diante dos poderes constituídos e o comportamento da igreja de Cristo como
todo. Isto significa que a orientação da igreja segue a revelação de Deus sobre
o assunto, e como tal deve ser obedecido por todos os membros do corpo de Cristo. Imaginemos uma
mão intecionando fazer uma coisa e a outra mão intecionando fazer outra coisa.
Ambas não realizariam nada porque não poderiam atuar em projetos diferentes.
Ou, se a cabeça ordenasse a mão que se posicionasse numa determinada direção e
a mão se dirigisse em outro sentido. Nada se realizaria. Igualmente o corpo de
Cristo que é a igreja não poderá se dissociar dos ensinos da Palavra
revelada. Deve haver coerência, metas e
objetivos a serem alcançados. Assim, os mesmos princípios aplicados a igreja
devem ser aplicados a todos os crentes isoladamente.
A participação do crente na política tem sido muito questionado em
nossos dias. O que mais chama à atenção da comunidade cristã no exercício dos
cargos eletivos, é que os testemunhos daqueles que tem alcançados os cargos
públicos. Tanto na área do legislativo como do executivo, e até mesmos em
cargos de confiança dos governos, tanto a nível federal como estadual, tem
deixado muito a desejar, pelo menos é o que temos observado entre muitos dos
que tem sido eleitos.
Após a abertura democrática no país, verificamos uma crescente
ascendência de evangélicos ingressando na carreira política. Ao mesmo tempo
temos visto que muitos destes irmãos não conseguiram sua reeleição, em eleições
posteriores, pelo simples fato de terem fracassado como políticos. Muitos
escandalizaram o evangelho de tal modo que tornaram-se opróbrio no meio do povo
de Deus. Decepção e escândalo para o evangelho e para a Igreja de Cristo. Não
estavam aptos para exercerem os cargos eletivos à luz da palavra e testemunho
do evangelho como sal da terra e luz do mundo. O seu sal tornou-se insosso para
a terra e a luz apagou-se no meio das trevas.
O crente pode e deve encarar a carreira política como algo natural,
como se fosse uma outra carreira qualquer, dentro da nossa sociedade. Os cargos
eletivos e de confiança nos diversos escalões do governo estão tanto para o
ímpio como para o cristão. E, a Bíblia em nenhum momento menciona a
desaprovação de Deus quanto a fazer acepção de pessoas, para o exercício do
poder. Na história do povo hebreu vimos que José foi vendido por seus irmãos.
No Egito ele não se corrompeu diante das tentações da mulher do Ministro
Potifar e pagou caro pela sua fidelidade ao seu Deus. Foi preso e castigado,
mas levantou-se quando o Rei precisou de quem interpretasse o seu sonho. José
interpretou o sonho e em seguida foi nomeado Governador, tornando-se uma benção
para o Egito e mais tarde para o povo hebreu. (Gen. 41:38-40).
No cativeiro babilônico Daniel preferiu não se alimentar dos manjares
do rei. Tornou-se tão belo e forte quanto os demais cativos do reino destinados
a serem instruídos nas letras e língua dos caldeus. (Dan. 1:4). Daniel foi
ricamente abençoado por Deus no meio de um povo estranho tornando-se príncipe
no meio deste povo estranho (Dan. 6:2). Foi condenado a cova dos leões, mas não
se prostrou, nem prestou adoração ao rei Dario, antes manteve-se fiel a Deus.
Passada a noite Daniel manteve-se vivo pela proteção de Deus que fechou a boca
dos leões. Daniel saiu amparado pelo Rei Dario que já havia se arrependido de
seu edito. Agora fez um novo decreto publicado e divulgado para cumprimento em
todo o domínio do império para que todos os homens temessem e tremessem diante
do Deus de Daniel. “...porque ele é o Deus vivo e para sempre permanente, e o
seu reino não se pode destruir; o seu domínio é até o fim. Ele livra e salva, e
opera sinais e maravilhas no céu e na terra; ele livrou Daniel do poder dos
leões” (Dan. 6:26-27). Deus foi glorificado na vida de seu servo Daniel. O
cristão glorifica a Deus e é uma benção para os homens e para as nações quando
se mantém fiel ao Senhor.
3. A POLÍTICA
A política é um instrumento da democracia. A pluralidade de partidos
pressupõe que existe livre-arbítrio, a ser exercido pelo povo que deve
conscientemente escolher seus mandatários em escrutínio livre e secreto. Nos
regimes totalitários de qualquer ideologia, não existe a liberdade democrática.
Os governos são impostos pela força ou são transferidos por hierarquia. A
democracia está coerente com a Palavra de Deus, porque Deus fez o homem livre.
Deus abomina a escravidão, a servidão, o cativeiro, e a opressão tanto físico
material, como espiritual. “Se pois o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres” (João 8:36). Segundo, o autor Justo Gonzalez em sua coleção “Uma
História Ilustrada do Cristianismo”, os imperadores romanos acusaram os
cristãos de haverem desestabilizado o Império Romano, com o que tenho
concordado plenamente. O cristianismo tem transformado o homem e tem mudado a
história do mundo. A oração do justo pode muito em seus efeitos. O clamor da
igreja derruba impérios, muros e regimes totalitários. A igreja pode mudar a
história política na medida que ela coloca os povos diante do trono de Deus.
Cometemos um erro grave quando
imaginamos que teremos reinos de paz,
justiça, tranqüilidade ou de equilíbrio econômico-social. As promessas
de Deus são para a igreja de Cristo. Novos céus e nova terra (Apoc. 21:1-7).
A política é a manifestação do pensamento do homem. Ela é necessária
nos regimes democráticos porque politicamente o homem pode expressar a sua
vontade, aliada a vontade do grupo. A maioria partidária leva ao poder. Ainda
que não seja o método mais apropriado não conhecemos outro e deste modo ele é
justo.
Samuel e Deus discordaram do desejo do povo de Israel quando pediram um
rei, pelo simples fato de todos os demais povos terem seus reis. Deus era o Rei
de Israel. Deus estava à frente de seu povo e pelejava por ele. Não havia
justificativa para exigir-se um rei. Deus acabou atendendo ao clamor de Israel
e o reinado foi um fracasso (Sam. 8:5). A política como instrumento democrático
deveria ser utilizada para ser uma benção para todos os povos, no entanto tem
sido mais um instrumento de corrupção e de ambição. Os políticos tem legislado
mais em benefício próprio do que em benefício do povo. Enquanto o povo não
souber escolher bem seus representantes não terão dias melhores. O povo tem o
governo que merece, diz um adágio popular, porque uma vez escolhido os
governantes de modo errado, só resta democraticamente suportá-los, até nova
oportunidade de mudá-los. Em qualquer situação os governos humanos serão apenas
um paliativo para o problema do homem. Somente Deus através de Jesus tem a
solução definitiva para o problema homem.
Augusto Bello de Souza Filho
Nenhum comentário:
Postar um comentário