terça-feira, 7 de julho de 2020

A IGREJA E A AÇÃO SOCIAL


 
A justificação é um dom de Deus. Cristo é o único instrumento da justificação, pois é importante analisar as Escrituras e ver a do Ministério de Jesus na prática da ação social, sendo o primeiro a assumir responsabilidade social quanto aos pobres.
Em o Novo Testamento o termo grego ptwco,j (ptöchos) ocorre 34 vezes, sendo que 24 vezes somente nos evangelhos. O conceito básico de "pobre" nos evangelhos não se refere somente àqueles que eram economicamente despossuídos, Inclui, em primeiro lugar, os mendigos, sendo que muitos destes eram doentes e aleijados e não tinham outra alternativa senão mendigar. Havia também as viúvas e os órfãos, que dependiam das esmolas de sociedades piedosas e do tesouro do Templo, e devemos incluir ainda nesta lista os operários diaristas não qualificados, os camponeses e os escravos. E os maiores sofrimentos desta classe, além das privações, eram a vergonha e o desprezo (Lc 16:3).
Os pobres dependiam totalmente da caridade de outras pessoas, Albert Nolan  descreve que a palavra "pobre" abrange todos os oprimidos que dependem da misericórdia de outrem.
Jesus não ficou indiferente à pobreza nem mesmo à situação econômica da pessoas. Nos evangelhos sinóticos Jesus disse ao rico que queria herdar a vida eterna: "Vai vende o que tens, dá-o aos pobres" (Mc 10:21, Lc 18:22). Mt 19:21 qualifica esta declaração ao incluir a condição: "se queres ser perfeito". Em Mc 12:41-44 e Lc 21:1-4, Jesus disse que a oferta da viúva pobre, que parecia irrisória, era muito maior do que a oferta dos ricos.
Jesus fala dos pobres em Mt 11:5, nas bem-aventuranças Mt 5:3 e em Lc 6:20. Nenhuma das duas passagens emprega pobre no sentido social geral. A forma expandida de Mateus ressalta o fundo histórico vétero-testamentário e judaico daqueles que, na aflição, confiam somente em Deus (Cf Sl 68:28-29; 32-33; Is 61:1). Em Lucas, as bem-aventuranças se confirmam essencialmente à pobreza, aos pobres, aos que choram, aos famintos, aos odiados, e seguem-se os "ais" contra os ricos.
Jesus se identifica com os pobres nas bem-aventuranças. Os evangelhos sinóticos retratam sua vida. Seu modo de viver não só se identificava com os pobres mas também com o conceito vétero-testamentário da pobreza. Sua vida em si, era um ato de amor, e ao mesmo tempo fez a escolha de se lançar sob os cuidados do Pai. Jesus pertencia a esta classe humilde e não tentou sair dela, pelo contrário trouxe uma nova perspectiva para todos aqueles que se sentem oprimidos. Sua compaixão o tornou diferente de todos os outros (Mt 9:36; 14:14); e esta compaixão é o sentido da parábola do bom samaritano (Lc 10:25-37).
Nolan faz o seguinte comentário a respeito da compaixão que Jesus sentia:
 
"A palavra "compaixão" é fraca demais para exprimir a emoção que movia Jesus: O verbo grego spagchnizomai, usado em todos esse textos (Mt 9:36; Mc 6:34, Mt 14:14; Lc 7:13; Mt 20:34), é derivado do substantivo splagchnon, que significa intestinos, vísceras, entranhas, ou coração, ou seja, as partes internas das quais parecem surgir as emoções fortes. O verbo grego, portanto, significa movimento ou impulso que brota das próprias entranhas da pessoa, uma reação das tripas."
 
Jesus mostrou um sentimento humano, e este sentimento causou grande impacto sobre as pessoas que eram oprimidas, e a Igreja primitiva vai assumir também este sentimento e vai desenvolver uma evangelização através da ação social.
A igreja primitiva narrada em Atos mostra-nos que os primeiros cristãos compreenderam o significado de serem embaixadores de Cristo, comprometeram-se com a evangelização, proclamaram (kerigma) as boas novas (evangélion) e supririam as necessidades dos irmãos (diakonia). E com esta estratégia alcançaram o mundo conhecido do primeiro século sendo chamados cristãos. (At 11:26), pois ganharam a admiração do povo (At 5:13).
De um modo geral, as igrejas tinham muita compaixão pelas necessidades dos pobres de suas comunidades e de outras também. Na ocasião que Jerusalém sofre perseguição e passa por grande crise social os crentes de Antioquia enviaram para eles suprimentos (At 11:28-29).  Calvino fala que essa gratidão não merecia pequeno louvor, pois os crentes de Antioquia pensavam que deveriam ajudar a irmãos necessitados, de quem haviam recebido o Evangelho. Porquanto nada existe de mais acertado do que aqueles que têm semeado as realidades espirituais, devem colher também coisas terrenas. Visto que qualquer pessoa se inclina para suas próprias necessidades, todos aqueles homens poderiam ter objetado, porém, não o fizeram, mas se preocuparam e os ajudaram.
A igreja  Primitiva aprendeu o ensino de Jesus pelo qual todos são chamados a servir ao próximo. E é neste sentido que eles imitaram a Cristo, pois serviram com liberalidade. O apóstolo Paulo dá um passo decisivo para o avanço missionário mostrando sua concepção social na evangelização. Sua teoria e prática reflete, em primeiro lugar por nações que estão distantes, e necessitam serem alcançadas, e em segundo lugar pelo tratamento que dá aos pobres. Todos seus programas vão derivar destes dois aspectos.


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